Pelo que ouvi ontem no Polêmica Paraíba (Rádio Paraíba FM, 101.7) da ebuliente refrega verbal entre o governador Ricardo Coutinho e o advogado Gilvan Freire (os dois se enfrentaram anteontem à noite em programa da TV Master, de João Pessoa), Sua Excelência está mesmo decidido a viabilizar o projeto Mangabeira Shopping por cima de pau e pedra.
Doutor Ricardo defendeu mais uma vez, e dessa vez como quem defende com unhas e dentes, a permuta do terreno da Academia de Polícia (que pertenceria ao Estado) por outro no Geisel (que o Governo do Estado desapropriou em 2005 para um fim específico e depois, estranha e irregularmente, vendeu um particular em 72 suaves prestações).
Antes de prosseguir, devo lembrar mais uma vez o seguinte: o terreno da Acadepol, em Mangabeira, é duas vezes maior e pelo menos cinco vezes mais caro que o terreno do Geisel.
Mas Sua Excelência alega sempre que na troca – com os donos do Manaíra Shopping e do Atacadão dos Eletros – o Estado vai ganhar o troco e ganhar de bônus uma nova Acadepol e uma nova Central de Polícia no Geisel, obras que serão construídas pelos empresários que ficarão com o terreno de Mangabeira.
A propósito, a pedido de um leitor muito especial, devo lembrar também que essa troca significará o fim da velha Central de Polícia da Capital, único equipamento de segurança pública em funcionamento na Cidade Baixa, área de elevada criminalidade. Mas isso, tal como o povo que mora na área, deve ser “apenas um detalhe” para o atual governador.
Por uma concorrência pública
Voltando às vantagens propaladas por Sua Excelência. Propus aqui que em vez de permuta o governo faça uma concorrência pública. Pode ser que apareça alguém disposto a dar mais do que o troco e a construção das novas Academia e Central de Polícia. Pode ser que apareça alguém com uma proposta bem melhor do que essa apresentada pelos atuais proponentes e tão prontamente aceita e tão enfaticamente defendida pelo governador.
Sobre o assunto, conversei ontem com um empresário paraibano do ramo de shopping center que me disse o seguinte: “Rubens, a gente não quer entrar em bola dividida, mas é evidente e lógico que o melhor seria fazer uma licitação, uma concorrência, e não essa permuta”. Avancei e sugeri que ele conversasse com o Doutor Manoel Gaudêncio, do Mag Shopping, e com o pessoal do Shopping Tambiá. A idéia seria que eles formassem um consórcio e entrassem na disputa.
Ele me respondeu com o silêncio marcado por um sorriso meio desanimado, como quem diz: “Dá não, amigo velho, porque a gente conhece esse baralho e as cartas já estão marcadas”. Será? Não acredito, não quero acreditar. Algo me diz que o governador ainda vai reavaliar e abrir a concorrência, sob pena de muita gente achar que ele está mesmo a serviço de uma transação nada republicana.
Afinal, o negócio, como todos sabem, interessa a Roberto Santiago, dono do Manaíra Shopping, que conta com todo o empenho do mundo do governador Ricardo Coutinho em obter autorização legislativa para a permuta sem que seja feita avaliação prévia do bem público a ser alienado, como exige a lei (a Lei das Licitações, a 8666/93).
É caso para uma ação popular
De qualquer forma, no pega-pra-capar da TV Máster o Doutor Gilvan deixou entendido que o caso vai parar na Justiça, caso o governador insista em fechar a troca da forma como entende ou da forma como quer o Doutor Roberto Santiago. E é bom que pare mesmo na Justiça, para que Sua Excelência entenda de uma vez por todas que ele não está acima dos seus concidadãos e, muito menos, acima da lei.
Não tenho dúvidas de que se o próprio Gilvan não o fizer alguém terá que ajuizar uma ação popular para impedir que em nome do interesse de um o governador atropele o direito de todos, desconsiderando os princípios da livre concorrência e da igualdade de oportunidades entre potenciais interessados num negócio como esse.
Como já disse aqui, além dos empresários locais, botar um shopping em Mangabeira (onde moram mais de 60 mil consumidores, vizinhos do terreno da Acadepol, sem contar o pessoal de Bancários, Anatólia, José Américo e Altiplano) é um negócio e tanto.
Daí por que, não tenho dúvida, poderia interessar também, entre outros, ao Carrefour, Pão de Açúcar, Walmart Brasil (Bompreço), Iguatemi, Grupo JCPM (João Carlos Paes Mendonça), Armazém Paraíba (Grupo João Claudino) e BRMalls (do Shopping Recife). Mas isso, tal como o povo, deve ser “apenas um detalhe” insignificante para o atual governador.
Tomografia positiva e operante
Médico amigo do colunista ficou preocupadíssimo com o que leu ontem na coluna do jornalista Helder Moura, do Correio da Paraíba, e me pediu para checar se era verdade que o novo Hospital de Trauma de Campina Grande estava aberto ao público, mas sem contar ainda com tomografia computadorizada por falta de um técnico operador.
“Se esta informação for verdadeira, é mais um crime que se comete contra a saúde neste Estado. Um crime doloso. Em pleno século XXI um hospital de referência nesse tipo de atendimento não pode funcionar sem o seu mais importante equipamento. É o mesmo que ter um automóvel sem as rodas. Como os neurocirurgiões vão poder atender aos acidentados sem a imprescindível tomografia? Isto não existe. É uma afronta à ética médica. Repito: quem permitir o funcionamento daquele hospital dessa forma estará praticando crime doloso. O CRM (Conselho Regional de Medicina) não pode permitir que os médicos trabalhem nesta condição de arremedo”, alertou.
Chequei a informação pessoal e diretamente com o Doutor Flawber Cruz, diretor técnico do HTCG. Ele me tranqüilizou e a todos que querem ver o maior e mais bem equipado hospital da Paraíba funcionando a plena carga e com todos os seus equipamentos à disposição de quem mais precisa.
O diretor me garantiu que a única dificuldade é não dispor ainda de mais técnicos e de mais médicos radiologistas para agilizar os exames de tomografia. Mas isso deverá ser resolvido até a semana que vem com a contratação emergencial de pelo menos mais um técnico e outro médico. Ainda assim, apenas com o pessoal de que dispõe (transferido do velho Hospital Regional), o novo Trauma já fez 14 tomografias na última sexta-feira e ontem, pleno dia de reinauguração pelo governador Ricardo Coutinho, foram realizados nada menos que seis exames do tipo.