A Polícia Federal interceptou comunicações do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, que mostram não ter se limitado a diretórios e deputados o repasse de recursos a políticos no ano de 2010.
Um funcionário com mais de dez anos de serviços prestados ao PP no Congresso em postos-chave aparece em um e-mail enviado ao doleiro como beneficiário de um depósito de R$ 25 mil. Ivan Vernon Gomes Torres Júnior trabalha na segunda secretaria da Câmara, ocupada por Simão Sessim (PP-RJ).
Documentos apreendidos pelos investigadores e revelados anteontem pelo Estado mostram a intermediação por Youssef de doações de R$ 4,640 milhões de fornecedores da Petrobrás a diretórios do PP e do PMDB. Há ainda novas pistas que podem elevar em mais R$ 2,7 milhões os recursos distribuídos em ano eleitoral. Youssef, segundo a investigação, atuava em parceria com Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal indicado pelo PP e que tinha amplo trânsito com PMDB e PT. Ele também está preso.
O nome de Ivan Vernon aparece em um e-mail recebido pelo doleiro no dia 22 de dezembro de 2010. O interlocutor não foi identificado. O título da correspondência é “número das contas”. O assessor tem a sua conta no Banco do Brasil detalhada com a descrição de um repasse de R$ 25 mil. Os investigadores ressaltam no documento o fato de ele trabalhar na Câmara.
Consta na mesma lista o ex-presidente do PP, Pedro Corrêa – preso por sua condenação no processo do mensalão -, como beneficiário de outros R$ 20 mil.
Demissão. Na terça, depois de procurado pelo Estado, o deputado Simão Sessim informou que a nomeação de Ivan deve-se à deputada Aline Corrêa (PP-SP) e que vai demiti-lo.
O assessor trabalhou com Pedro Corrêa diretamente de 2003 a 2006. Com a cassação do deputado, foi para a liderança do partido. Na data do e-mail, o líder era João Pizzolatti (SC). Em 2012 o deputado ficou lotado na segunda vice-presidência, comandada por Eduardo da Fonte (PE), hoje à frente da bancada do partido. Desde março de 2013 Ivan Vernon consta na lista de funcionários da segunda secretaria, ocupada por Sessim. Em março deste ano, seu salário bruto foi de R$ 7,2 mil.
‘Indicação’. O segundo secretário disse que a nomeação do funcionário era de responsabilidade da colega. “Ele é uma indicação da bancada através da deputada Aline Corrêa. O cargo na Mesa é do PP. Eu sou apenas o representante. Os outros deputados ajudam a montar o gabinete.”
No gabinete de Aline Corrêa, a informação é de que ela não estava em Brasília na noite de ontem e não havia como localizá-la. Pizzolatti não retornou às ligações. Eduardo da Fonte diz que despachou poucas vezes com o servidor e que a indicação era de Pedro Corrêa. “Não tenho relação nenhuma com esse Youssef”, afirmou o atual líder. Ivan foi procurado em seu local de trabalho e por e-mail, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem.
O Estado mostrou anteontem que Youssef intermediou contribuições da empreiteira Queiroz Galvão e da Jaraguá Empreendimentos, ambas fornecedoras da Petrobrás, ao diretório nacional do PP, as seções regionais da legenda na Bahia e em Pernambuco e os deputados do partido Nelson Meurer (PR), Roberto Teixeira (PE), Aline Corrêa (SP) e Roberto Britto (BA).
O diretório do PMDB de Rondônia, controlado pelo presidente nacional em exercício, senador Valdir Raupp, também aparece na lista. Do Estadão