A França de Luís XIV e a Parahyba de Ricardo

Eliabe Castor

LuizXVEu fui visitar a França e, numa dessas incursões, encontrei-me tète à tete com Luís XIV, conhecido como “Rei Sol” em decorrência da sua famosa frase absolutista “L’État c’est moi”, ou, em bom português, “O Estado sou eu”. Entre uma borboleta ali, outra acolá, passeamos no magnífico jardim do Palácio de Versalhes. Precisava saber mais sobre um sistema político no qual se confere todo o poder a apenas um indivíduo.

Indagação feita, Luís XIV olhou para mim com olhar severo, quase lançando chamas por suas vigorosas ventas, para em seguida tomar fôlego e pedir que não mais tocasse em tal assunto, pois a angústia de tomar decisões solitárias, pelo menos no seu caso, havia lhe custado o abandono dos amigos e trair seus próprios valores morais e políticos.
Cabisbaixo, vi aquele monarca, antes vigoroso e prepotente, como a frágil Rapunzel; solitário e trancafiado numa imensa torre. Pior, o “Rei Sol”, diferente da personagem do conto, era desprovido cabelos longos para um príncipe lhe salvar. A solidão era nítida e, para suplantar a dor, restava-lhe a perseguição, o poder bélico e financeiro para buscar aniquilar seus opositores.

Enquanto adentrávamos no jardim, ouvi, constrangido, gritos de uma multidão sedenta por justiça. Aquelas súplicas saiam da alma, navegavam pelas cordas vocais e irrompiam os tímpanos de um povo oprimido. Tratava-se de uma multidão agonizante que protestava no meio a uma grande dor; não a física, mas aquela que fere a esperança e aniquila o futuro.

Olhando para baixo, pois não me atrevi a observar o semblante raivoso de Luís XIV, apenas escutava clamores distantes de homens e mulheres que apostaram dias valiosos das suas vidas em um projeto megalomaníaco destinado a colocar todo um reino rumo ao progresso. Porém, diferente do que imaginavam, o colapso do Estado, pautado na perseguição, intolerância e contradição era, e é, realidade plena.

Para os que pleiteiam o rumo certo do Estado, digo, apenas, que faça valer o seu maior direito, que está ficando na democracia. Quanto a Luís XIV, bem; ele teve um fim trágico ao padecer de gangrena. Sua morte foi lenta e agonizante, como contam os livros de história. Qualquer semelhança deste texto com a realidade política atual e social da Parahyba não é mera semelhança