Pelas armas ou pelo voto: o meio e o jeito
Há duas formas de governar: pela força ou pelo diálogo. Também há duas formas de se chegar ao poder: pelas armas ou pelo voto. A depender do meio, o jeito. Sendo pelas armas, a força; mas, sendo pelo voto, o diálogo.
(Embora não caiba, adianto que não acredito mais, eu, o escrevinhador dessas linhas, em nada que seja pelas armas, em nada que seja pela força. Não há exemplo nenhum, repito, nenhum, na história mundial, que alivie o erro das armas e da força).
Pois bem. Ao conquistar o governo da Paraíba, no arranjo eleitoral que lhe foi possível em engenho e arte, o governador Ricardo Coutinho, do PSB, assumiu a gestão paraibana pelo voto e ciente de que havia de estabelecer o diálogo, nas formas atualmente possíveis, para governar.
Lembro isto por conta de declarações que aqui e mais adiante Ricardo tem repetido, de forma exaustiva. Ele reclama sempre de concessões que teria de fazer aos agentes políticos para que seu governo se mantivesse ao gosto desses agentes.
Diz, mas não nomeia nem adianta que concessões seriam estas. Contudo, não cabe a Ricardo o perfil de ingênuo, de ludibriado. Quando se candidatou, e, na sequência, venceu e foi empossado, sabia perfeitamente o modelo a ser gerido, a partir de então.
Não fez nada do que deveria fazer. Começou perdendo gente ao seu redor, gente que havia contribuído, e muito, para sua ascensão política. O resultado dessas perdas logo apareceu na derrota acachapante que teve em sua cidadela política: a cidade de João Pessoa.
(Tenho que me limitar à perda de seus amigos, perdas inesperadas. Deixo de relacionar a perda do senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, porque esta era uma perda escrita nas estrelas (só Ricardo não sabia), e que terminou por se revelar, como está acontecendo).
Agora, de forma espantosa, fica em minoria no Legislativo, uma minoria tão expressiva que, se mantendo, lhe será incapaz de aprovar mais nada naquela Casa. Com um agravante: pode ter suas contas reprovadas e ficar inelegível. No mínimo, enfrentar desgastantes batalhas judiciais.
Refiro-me ao documento assinado por 26 dos 36 deputados estaduais paraibanos em defesa do presidente da Assembleia Legislativa, Ricardo Marcelo, atacado publicamente pelo governador. Em resposta, os 26 deputados acabam também atacando o governador. Nada parecido na história paraibana recente ou remota.
Vai mal, muito mal, o governador paraibano no quesito diálogo. E, pelo jeito, não há remédio possível. E caso vença o pleito de outubro será um verdadeiro milagre. São reduzidas as forças políticas estaduais ao seu lado. E, pelo que dizem as pesquisas, não tem tanto povo como precisaria ter.