OS ESCRAVOS BRANCOS DO GOVERNADOR

Gilvan Freire

                        Mais de 30 mil empregos diretos são disponibilizados por cada governante a seus súditos políticos no Estado a cada quatro anos, sem contar com as vagas surgidas durante o governo por causa dos serviços públicos que vão sendo instalados, programas criados, etc.

Essa é a cota que cada governador dispõe para fazer o bem e o mal, ora se vingando de seus adversários, ora premiando seus cabos eleitorais. Esses cargos são quase todos informais, não existem na estrutura administrativa do governo, a não ser uma pequena parte, ficando a grande parte incluída nos contratos temporários e outras anomalias trabalhistas que os gestores manipulam ao livre prazer através da afeição ou da perseguição.

  É por meio desse arcaico e anticivilizatório processo de escolhas pessoais, símbolo do atraso em que ainda nos achamos e dos abusos explícitos com o dinheiro público (e da constante corrosão da moralidade administrativa), tudo feito às escâncaras e mediante a generosa e comprometedora complacência e cumplicidade das instituições encarregadas de conter ilegalidades e abusos, que os homens públicos vão engrossando sua calda eleitoral. É a partir daí que os dirigentes máximos da Paraíba exercitam a arte perversa de demitir mais de 30 mil pessoas em pouco tempo, algo como fechar trinta grandes fábricas de mil empregos cada em breves meses, causando amarguras, destroçamento humano, privações e até suicídios.

 

ESSA MISÉRIA MEDIEVAL DOS CONFINS DO MUNDO, atentória à dignidade humana, é feita com regularidade na Paraíba, terra de tantos súditos que os governantes dão-se ao luxo de se julgarem reis. Afinal, muitos desses empregados políticos só serveriam para carregar pinicos e cheirar as bufas desses soberanos aonde eles forem. No Império Romano (século III e II a. C) era assim também, havia coletores das fezes reais nas comitivas do rei a fim de aliviar-lhe as tensões estomacais, munidos de pinico e toalhas de assepsia, que depois seriam lavados, cheirados e repostos. Aqui, entre nós, por causa da modernidade higiênica dos toaletes, importados dos costumes franceses, seus súditos não mais coletam, apenas cheiram os gases sulfídricos dos reis de plantão tupiniquins. Abanam-lhes o rosto, coçam-lhe os possuídos, lambem seus solados, beijam-lhes as mãos, adoram-lhes feito os santos. De certa maneira, é a única forma desses serviçais honrarem o dinheiro que retiram da Fazenda Pública, se é que a desonra pode ser objeto da honra.

 

Tirante os bajuladores assalariados, que cada governante tem os seus, os detentores desses empregos ocasionais são vítimas da exploração política, do escravismo eleitoral e da perversa desmoralização imposta pelos líderes a seus próprios eleitores, sujeitos que ficam a um bem de pouca duração e a um mal que os marcará para sempre. É verdade que só o mal nunca será esquecido.

 

RICARDO COUTINHO JÁ DEMITIU em seu governo mais de 30 mil servidores (fechou mais de trinta fábricas grandes). Entre os demitidos muitos foram seus eleitores – alguns remanescentes do governo de Cássio e outros empregados pelos aliados de Maranhão, que o traíram durante a campanha migrando para o candidato cassista. Ninguém saberá contar quantos perderão seus empregos agora. Possivelmente, os que perderem serão os que votaram no atual governador, mas poderiam votar hoje em Cássio, pois são ligados a líderes cassistas. O jogo é bruto e maquiavélico, muito ao estilo de RC. É uma fábrica de malvadeza destruindo muitas fábricas de bondade e solidariedade de pobres eleitores enganados e vilipendiados por seus próprios chefes políticos.

 

MAS, O ULTRAJE É MAIOR PORQUE RC DECLARA ABERTAMENTE QUE PRECISA DE GENTE PARA SE INTEGRAR A SEU PROJETO, como se esse povo todo não tivesse votado nele e nem estivesse integrando a seu governo. O que resta claro mesmo é que o projeto de RC é diferente do projeto público, de interesse coletivo. O dele é pessoal, embora pago com dinheiro público. Ele quer vassalos reais, cabos eleitorais declarados para a sua reeleição, esperando contar com a compreensão da Justiça Eleitoral, que ainda não achou nada de anormal de suas estupefatadas declarações.

 

É a mesmice pecaminosa dos costumes e a estupidez de nossas omissões que sustentam esse projeto dos tempos dos faraós, reeditado no século 21 por Ricardo Coutinho na Paraíba.