Mais um amigo de Ricardo Coutinho desiste. Ainda há outros em seu governo?

Sérgio Botêlho

Confesso que poucas coisas me surpreendem na política, onde tudo é possível acontecer. Mas, no governo Ricardo Coutinho, as surpresas se revezam numa velocidade tal que assustam. Foi o caso do pedido de demissão apresentado pelo ex-chefe da Casa Civil, Lúcio Flávio, revelando decepção e mágoa ao sair.
Lúcio Flávio, quadro de grande prestígio na Academia, onde milita na docência, sempre foi um dos principais admiradores e conselheiros de Ricardo Coutinho. (Nessa condição, já foi chefe da Casa Civil do governo socialista, vivendo, como tal, um momento de barulhenta crise envolvendo compras pessoais da Granja Santana, residência do governador e da primeira dama).
Não foram poucas vezes que Lúcio Flávio assumiu com unhas e dentes a defesa do governo Ricardo, em embates contra adversários. Em outras oportunidades, Lúcio Flávio partiu para o enfrentamento verbal e intransigente em defesa da própria pessoa de Ricardo Coutinho, quando este era vítima de ataques.
A decepção de Lúcio Flávio não deveria surpreender. Já se foram Nonato Bandeira, Luciano Agra, Alexandre Urquiza, Fernando Abath e Roseana Meira, figuras supostamente de grande intimidade com Ricardo Coutinho, e, assim como Lúcio Flávio, responsáveis, em parte considerável, pela ascensão do atual governador à constelação da política paraibana.
Quando falo supostamente é porque termino por imaginar que efetivamente possa ser impossível ao cidadão se considerar amigo de Ricardo. Ainda mais diante da frieza com que o governador recebeu a notícia do pedido de demissão anunciado por Lúcio Flávio. Como sempre, a reação é de alguém que se revela traído, o que é muito perigoso como característica para alguém que persegue o poder.
Lúcio sai, não apenas por isto, mas, sobretudo, pelo seu anunciado desgosto com a prevista demissão de milhares de servidores do estado –  a maior parte deles, evidentemente, pais de família assoberbados com dívidas -, outra medida que parece não mexer muito com os sentimentos objetivos de Ricardo.
A ninguém, após essa decisão de Lúcio, na sequência daquelas anteriores, pode ter o desplante de se dizer próximo do governador e dele desfrutar fortes sentimentos de amizade. E nem o próprio Ricardo pode sonhar com um grande número de amigos no caso de ter que voltar para a planície, se, por exemplo, perder a eleição de outubro próximo.
Não, definitivamente não me lembro de qualquer governador paraibano que tenha exercitado de tal forma o poder. Há sempre, mesmo em pessoas de grande objetividade política, amizades que os eventuais poderosos, aqui e alhures, procuram preservar, a qualquer custo. Dessa forma também eram dos Deuses do Olimpo, mesmo que imortais.
Agora, é de se perguntar quem será o próximo, ou quem serão os próximos. Ainda bem que Lúcio Flávio tem para onde voltar, prosseguindo sua vida profissional na Universidade Federal da Paraíba. Outros, não têm ou não terão tanta sorte, assim. Infelizmente, pior para eles.