Gilvan Freire
Os pratos do dia, neste período de pré-campanha, são as coligações, que precisam chegar prontas às convenções de junho. Faltam menos de três meses. Mas a corrida em busca delas é frenética, porque as disputas são acirradas, especialmente entre Cássio e Ricardo Coutinho, os dois, no momento, mais chamativos.
RC maneja com o poder que tem e seus encantos (encantos do poder), e Cássio com o poder de massas, tido por todos como o maioral. E também com a expectativa do poder que Ricardo detém hoje, pois ele muda de dono em janeiro, daqui a nove meses – esse é o tempo que RC tem para fazer o governo que não fez em três anos e três meses, ou, então, devolver a máquina de fazer propaganda no lugar de obras.
MAS RICARDO COUTINHO É UM HOMEM DE SORTE, tanto que se elegeu governador sem que quase ninguém o conhecesse tão bem quanto conheceriam mais tarde seus principais amigos do antigo grupo Girassol que, na medida em que foram conhecendo sua alma de governador, foram se intrigando dele. RC tem o melhor candidato a Senador de seu lado, Rômulo Gouveia, o vice a quem nunca deu o menor prestigio mas escalou para representá-lo em todas as solenidades que julgava desimportantes. Foi ai que Rômulo adquiriu projeção e importância, no contato direto com a sociedade, coisa que RC só faz em tempos de eleição, em estado de necessidade.
Quando Rômulo descobriu que não tinha a menor chance de ser o senador de Cássio, porque Campina já teria, possivelmente, dois candidatos a governador, e Cássio e Veneziano teriam de compor suas chapas fora de Campina, pensou então em ser candidato ao Senado pelo seu partido, o PSD de Kassab, neutro de ideologia e de princípios programáticos mas comercializável a partir da praça de São Paulo. Rômulo só precisava ter seu próprio partido para não ficar refém de RC ou de Cássio. Era obra planejada há tempos, desde que ele sofreu o diabo nas mãos dos dois, para não se meter a ser independente.
Rômulo também não queria mais ser vice, por duas razões: primeiro, porque sofreu desatenções inenarráveis; depois porque não queria ser o “cabra marcado para morrer” ao lado de RC. Melhor que morresse um só, de preferência Ricardo, este, sim, “o cabra marcado para não escapar”.
A candidatura ao Senado de Rômulo, embora minada pelo próprio Ricardo e seu núcleo de fogo, porque não vincula seus eleitores a RC e nem o fortalece em Campina, é a estratégia de Rômulo para tentar escapar em meio a pobreza dos quadros políticos na vaga de Senador e sensibilizar Campina, que não tem outro candidato. O mistério está em saber se parte dos eleitores de Cássio vai poder ajudá-lo, já que, decerto, os eleitores de Veneziano não vão, e os de RC mesmo não são muitos. De qualquer modo, tendo-o na vaga de candidato ao Senado, RC está resolvido a contragosto em casa.
VENEZIANO ESTÁ REFÉM DO PT, coisa que nem Aguinaldinho como ministro de Dilma aceitou, preferindo agir em faixa própria. Afinal, o PT da Paraíba nada teria a oferecer a Aguinaldinho, a não ser problemas, e ele foi ministro na cota do PP, nada devendo ao PT, menos ainda ao PT local. O máximo que Veneziano pode ganhar com o PT, afora o tempo no guia eleitoral e um palanque com Dilma em cima, é um saco de gatos, todos miando muito e se azunhando, cada um livrando sua própria pele e traindo a gosto e modo. Esse é o histórico de todas as eleições passadas, sem exceção. Veneziano, se quiser salvar a sua candidatura, terá de exercitar a velha magia do PMDB de lutas consagradas, pois a última vítima do amadorismo e das idiossincrasias do PT foi o Blocão, batizado de Flocão pela sua capacidade de se desintegrar rápido como neve – o que só Leonardo Gadelha não entendeu a tempo.
PELA MESMA RAZÃO DOS DEMAIS, CÁSSIO PODE RECORRER À SOLUÇÃO DOMÉSTICA para fechar sua chapa ao Senado, recrutando Cícero, já que Luciano Agra parece ser, acertadamente, o nome do PEN para o lugar de vice. Ninguém é maior para o Senado, dentro do cassismo todo, do que Cícero Lucena, e ainda teria a vantagem de não ter de fazer outras escolhas sem um mínimo de identidade política ou afinidade pessoal. Cícero é de agrado da militância.
É bom, contudo, que todos vejam os novos fenômenos emergentes, porque Luciano Cartaxo e suas vacilações e trepidações como gestor e o baixo desempenho de sua gestão estão fazendo RC crescer na Capital. A sorte de Cássio é que Luciano Agra tira proveito disso mais do que ninguém: vira coqueluche. E pode ajudar a eliminar de uma só vez seu criador e sua criatura.