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Local da tragédia em Medellín atrai dezenas de visitantes diariamente

Motoqueiros cobram o equivalente a R$ 5 para vencer o caminho de lama e pedras

local-acidente-aviaoCinco reais. É o preço para transformar um cenário de tragédia em ponto turístico. Um passeio em família numa tarde de domingo. Por esse valor, se contrata um motoqueiro nas proximidades de La Unión para chegar a Cerro Gordo, região do acidente que matou 71 pessoas, entre membros da delegação da Chapecoense, convidados e jornalistas. Dezenas de visitantes, de todas as idades, vão diariamente ao local, como relataram os moradores. Por mera curiosidade, para rezar pelos mortos, ou por outros motivos menos nobres. Alguns se emocionam e choram, outros descem a colina brincando e rindo. Um contraste forte entre os que chegam de várias partes do distrito de Antioquia.

De acordo com os motoqueiros que fazem o trajeto – e que não quiseram fornecer nomes ou gravar entrevistas – todos os dias as pessoas começam a chegar pela manhã e o fluxo segue intenso até as últimas horas de luz do sol. É preciso muita vontade de ver os destroços para se propor a encarar cerca de uma hora e meia de estrada de terra e pedras, cheia de atoleiros. Partindo de Medellín, o percurso leva cerca de três horas. E veículos comuns, sem tração nas quatro rodas e suspensão apropriada, ficam pelo caminho.
Por esta estreita trilha, é possível acessar um local bem próximo da colina com a qual o avião da boliviana LaMia se chocou e também do posto policial de Cerro Gordo, cujos efetivos foram os primeiros a chegar para prestar socorro após o desastre. Jairo Alberto Ballejo foi um dos que aproveitaram o domingo com a família para ver de perto o cenário do acidente:

– Quisemos vir aqui para ver para ver o local do acidente, que infelizmente é perto da nossa cidade de origem, Rionegro. Então estou aqui com a minha namorada, meu pai, meu sogro, e estamos aqui porque queríamos ver o que aconteceu com o voo. Sou torcedor do Atlético Nacional, estamos todos mundo sentidos com o que aconteceu com a Chapecoense. É uma tragédia que nos tocou a todos na Colômbia e a todos os nossos irmãos brasileiros.

Hector Hernandez, morador de Concorná, chegou já no fim da tarde, mas não usou o serviço dos motoqueiros. Foi ao local somente por curiosidade. E contou que, apesar de o acesso ser restrito a algumas áreas onde há destroços, por conta da investigação que está em andamento,  muitos visitantes estavam no local andando por entre a fuselagem retorcida.
– Vim ver o local da queda do avião, no meu carro. As coisas saem debaixo dos destroços. Tem pouca gente lá em cima mesmo porque estão fazendo uma investigação. Há um ponto que não deixam passar. Mas deu para ver muitas partes do avião, há muita gente lá visitando. Agora tinham umas 20 pessoas lá em cima.

A tranquilidade de Hernandez era o oposto da emoção de Luz Graciela Ocampo. Olhos marejados, seus lábios tremem ao relatar como foi a experiência. A sua reação ao ver os destroços foi rezar pelas vítimas da tragédia.

– Eu não queria ver pelo pesar e pela dor, mas hoje decidi vir. Muito triste, muito triste. Nesse momento, não deixam passar muita gente, algumas de cada vez, mas já passou muita gente por aqui. Eu imagino que essas pessoas querem ter conhecimento do acidente. Muitos vieram para conhecer, por curiosidade, ou por outras coisas. Comigo mesma, sozinha, em pensamento rezei um Pai Nosso por todas as almas que se foram aqui. É um momento muito difícil para todos – disse a senhora colombiana.

O seu marido, Luis Albeiro Valencia, chegou a ajudar nos resgates. Mas, se pudesse escolher, preferia não ter visto os destroços.

– Eu moro aqui perto, fui ajudar, mas não viria para cá ver o acidente.

Ciclista profissional, William Valencia Ocampo também é morador da região e filho do casal. Ele ouviu o estrondo, mas demorou a saber que se tratava de um desastre. Com a movimentação de carros e motos no local, chegou a pensar se tratar de uma festa.

– Escutamos um estrondo, mas nunca passou pela cabeça que era um avião. Pensamos que era pólvora, fogos de artifício ou alguma outra coisa. Quando era 1h, víamos as motos passando, carros, chegamos a pensar que era uma festa. Mas por volta das 4h nos disseram que era um avião. Aí meu pai veio para cá ajudar a tirar pessoas, ele ajudou a tirar o último sobrevivente.

William afirmou que muitos ficam curiosos porque nunca viram algo assim na região:

– Todos estão muito tristes pelas pessoas que morreram. Há muitos turistas que querem ver como ficou o avião.  Foi um acidente terrível. Desde o primeiro dia há muita gente vindo. Pessoas que vêm rezar pelos que morreram, ou para ver o acidente, há muitos anos que não acontece uma tragédia assim na Colômbia. Sou esportista, saber que tantos esportistas morreram juntos é muito doloroso.

Até mesmo crianças – e não são poucas – vão ao topo da colina por essa via de acesso. Algumas parecem não compreender a dimensão do que ocorreu ali. Mas não é o caso do menino Juan David, de oito anos, que foi acompanhado de sua mãe. Ele contou que pediu a ela para ir porque queria ver o que houve com a Chapecoense:

– Fui ver o acidente com a Chapecoense. É muita tristeza, muito pesar. Quis ir para rezar e pedir a Deus que cuide dos que viveram.

Fonte: Globo Esporte